Apesar de negligenciada, a ética no esporte é fundamental para a manutenção de resultados justos. Que é o que melhor representa a essência das competições esportivas, quando se espera que vença o melhor, mais dedicado e mais talentoso.
São muitos os aspectos éticos capazes de comprometer o brilhantismo do esporte. O fair play é destruído quando interesses externos comprometem a equidade das condições de disputa, como por exemplo a compra de resultados (o que inclui atletas, árbitros, técnicos e dirigentes), mas também o comportamento dos atletas durante os treinos e competições.
Como apreciar uma competição onde um atleta foi claramente agredido, puxado, empurrado ou ferido pelo seu adversário, descumprindo regras e, ainda assim, o agressor ou trapaceiro alcança a vitória?
Esses comportamentos são determinados pela falta de educação para a ética e são praticados por pessoas que não têm qualquer comprometimento com a correção de suas atitudes. Afinal, qual é o mérito e onde fica o orgulho de conquistar uma vitória quando se tem consciência que só venceu porque agiu com deslealdade/desonestidade?
E qual é a sensação de vencer, mas, devido à má conduta não ter seu desempenho reconhecido e admirado pelos fãs, amigos e, principalmente, pela família? Vale a pena?
Entretanto, existe um tipo de atitude antiética que pode passar despercebida do público – a dopagem, ou doping, como é mais conhecido.
Existe uma quantidade enorme de substâncias e métodos controlados pela WADA – World Antidoping Agency – e pelas agências nacionais, como a Autoridade Antidopagem de Portugal – ADoP e a ABCD – Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem, que, periodicamente e durante as principais competições, coletam amostras de urina e/ou sangue dos atletas para investigar se há sinais que indicam o uso de alguma substância proibida.
E por que tantos atletas usam de artifícios para melhorar seus desempenhos?
Com certeza, para além da vaidade e da visão equivocada do esporte, atletas profissionais ou que recebem patrocínios precisam melhorar constantemente seu desempenho para garantir a manutenção de seus salários ou verbas e, por isso, sofrem forte pressão por resultados. Muitos são assediados e orientados a usar drogas que aumentam seu potencial físico por pessoas que dependem e/ou lucram com a carreira desses atletas.
Só a força do caráter da pessoa, a boa educação moral recebida ou o medo das más consequências, caso a sabotagem seja descoberta, são capazes de inibir a prática de atitudes equivocadas.
Métodos e substâncias dopantes evoluem com o tempo. Os órgãos de combate à dopagem mantêm equipes de pesquisa para identificar as novas formas de melhorar o desempenho de atletas. Assim, sabe-se que muitos campeões olímpicos subiram ao pódio graças aos benefícios trazidos pelo uso de doping.
Os atletas, principalmente os campeões olímpicos, vivem de seus feitos e dependem de sua reputação para conseguir novos trabalhos, mesmo depois de se aposentam. Eles nunca ficam totalmente livres de verem seus resultados serem desconsiderados pela descoberta tardia de que competiram dopados, seja pela reanálise das amostras coletadas pela WADA durante os Jogos (sim… as amostras ficam armazenadas por dez anos e são reexaminadas para verificação de novas formas de dopagem desconhecidas na época da competição), seja pela denúncia de pessoas envolvidas ou prejudicadas.
É por isso que a cada nova edição dos Jogos Olímpicos vemos campeões do passado perderem suas medalhas porque usaram substâncias ou métodos que só foram descobertos mais tarde. Não faltam depoimentos de ex-atletas arrependidos. O livro “A Corrida Secreta de Lance Armstrong”, escrito pelo também ciclista Tyler Hamilton, conta os bastidores do Tour de France da época em que doping, armações e muito dinheiro determinavam a vitória.
A pergunta que fica é: como fica a vida de atletas flagrados em dopagem ou em sabotagem de resultados após a descoberta da fraude? Com a perda da boa reputação e da credibilidade, a maioria deles perde também a fonte de renda, o respeito das pessoas e ganham o desprezo de todos.
É preciso entender que a conduta ética no esporte está a ser cada vez mais acompanhada e valorizada, que está chegando ao fim o tempo em que as vantagens obtidas de forma obscura passavam despercebidas, e ficam mais e mais instáveis, inseguras e incertas.
Por: Marcia Cristina de Souza – Consultora