Na contemporaneidade há um consenso no entendimento de boa parte da população, de que o Esporte, além de essencial à garantia de uma vida saudável e longeva, é primordial para a redução das desigualdades e mazelas sociais. Basicamente, desde que firmado constitucionalmente como direito social, o esporte vem atuando não apenas como objeto de políticas públicas dos governos, mas como ferramenta de intervenção de instituições e empresas que pretendem atuar na área social. A este, vem sendo atribuída a responsabilidade e a função de incluir, desenvolver, tratar das condições de vulnerabilidade, dentre outros tantos fatores ligados ao que se entende como conjunto de soluções aos problemas sociais.
Fato é que, considerando os incontáveis projetos sociais na área, poucos são os resultados concretos sabidos acerca da eficiência de intervenções que se utilizam do esporte enquanto instrumento de transformação social. Ou seja, raros são, na literatura disponível, nas pesquisas publicadas ou, menos ainda, nos relatórios oficiais de programas e intervenções governamentais ou institucionais, registros de avanços em indicadores sociais capazes de alterar o desenho e a estrutura social, minimizando significativamente suas diferenças em decorrência das intervenções esportivas.
Este cenário permite a reflexão de que, ao contrário do que circula no imaginário coletivo, em se tratando de projetos sociais esportivos, as propostas, principalmente as voltadas ao atendimento das camadas mais pobres da população, sugerem a manutenção de uma ordem sistêmica estabelecida. Operam em consonância com a indústria do entretenimento e pouco fazem no sentido de promover impactos positivos no avanço e no desenvolvimento social.
Não sou descrente das potencialidades do esporte em atuar e produzir impacto no cenário social. Mas creio que para que resultados assim aconteçam são necessárias ações muito bem planejadas, articuladas e desenvolvidas. Além de um sistema de avaliação de resultados que comprovem, através de evidências, os efeitos desses projetos.
O Brasil vive, há um tempo, a mercê de uma fábrica de projetos sociais das mais variadas linguagens, principalmente as ligadas ao esporte e a cultura. Muitas vezes são projetos intermináveis, que geram a dependência de seus participantes e que nem sempre cumprem aquilo a que se propõem, ou nem mesmo avaliam se cumprem ou não.
Não me refiro só aos governos quando falo dos Projetos. Eles estão por toda parte. As ONGs e Instituições do Terceiro Setor os desenvolvem e executam. As empresas os financiam. Quais os grandes clubes e atletas de futebol não têm Projetos Sociais em desenvolvimento?
O futebol parece carregar um fardo ainda maior quando a missão é fazer ascender socialmente os mais desfavorecidos. É comumente utilizado como alavanca social (no discurso), mas, como todos envolvidos com a dinâmica do mercado do futebol sabemos, seria impossível a esse mercado absorver todos os “craques” atraídos a esses projetos.
Mas esse cenário está em evolução e novos tempos se firmam! Estamos passando da fase onde é necessário que todos desenvolvam projetos para a fase em que é necessário que todos desenvolvam bons projetos! “Negócios de impacto social”, “responsabilidade socioambiental”, “capitalismo consciente” e outros termos estão cada vez mais em uso. Todos eles relacionados a uma nova e melhor forma de relacionamento entre o homem, o capital e o meio.
Essa é uma realidade que está envolvendo a todos. Empresas, Instituições, pessoas físicas. Não cabe mais o lucro a qualquer custo. O desenvolvimento às custas do meio ambiente e do empobrecimento de parte da sociedade não é mais aceito. Assim, ações de engajamento, mobilização e impacto social ou ambiental que não produzam e não confirmem, de fato, essas ações, perderão cada vez mais espaço.
Os projetos sociais esportivos precisam deixar de ser simplesmente atividades gratuitas oferecidas à população de baixa renda, que se dizem potencialmente transformadoras de realidades, para se tornarem propostas de intervenção social bem planejadas e organizadas, realmente capazes de produzir as transformações a que se destinam.
Cabe aos responsáveis por intervenções desta natureza surfar essa nova onda de profissionalização e se comprometerem verdadeiramente com a elaboração de projetos sólidos e eficientes.
Por: Prof. Juliana Gonçalves – Consultora